Chegou o momento de você ser o protagonista da narrativa e não um coadjuvante ou só observador. E no caso de daqui pra frente nós formos capazes de literalmente “entrar” no cenário de um filme?! Depois de ser empregado nas áreas da publicidade, medicina e, especialmente, nos jogos eletrônicos, a sétima arte é a mais recente aposta da Realidade Virtual .
No Festival de Tribeca, em Nova York, Laganaro exibiu sua primeira película em realidade virtual – Step to the Line – um documentário sobre o cotidiano de duas prisões de segurança máxima nos Estados Unidos. É um tipo de teletransporte para o interior da história. Tão extraordinário que até o Mark Zuckerberg partilhou o curta na sua página principal do Facebook como um dos melhores exemplos do que a Realidade Virtual promete realizar com a sétima arte.
No Festival De Cannes, o consagrado diretor Alejandro Iñárritu- de películas como O Regresso, Babel e Biutiful – inclusive expôs sua primeira experiência imersiva com o filme “Carne Y Arena”, uma obra em Realidade Virtual de seis minutos e meio acerca da questão global da imigração e das pessoas refugiadas.
A realidade virtual no cinema vai muito além dos vídeos 360 cada vez mais comuns em lugares como o YouTube e o próprio Facebook. A recente tendência está mexendo com a cabeça dos criadores e todo esse meio tão cheio de charme.
De que modo opera o cinema em realidade virtual?
As pessoas utilizam um capacete RV, o que faz com que sua experiência seja extraordinária, ainda que os usuários acompanhem a mesma narrativa. São os seus movimentos que determinam o caminho a ser adotado no interior da narrativa.
Na realidade virtual , o espectador está totalmente rodeado pelo campo narrativo – o que causa um desafio bem maior nas filmagens, visto que câmeras e operadores devem se disfarçar em meio ao local de filmagem, a fim de que não sejam vistos durante a própria narrativa. A imersão proporcionada amplia a afinidade ao que acontece, de maneira que o espectador se sinta mais perto dos personagens e seus pensamentos. Não a toa, vários se referem ao RV como “fornecedor de situações”.
Uma questão fundamental pré-definida na estória implementada é se o corpo do espectador está presente ou não no mundo em RV – ou seja, se ele só observa ou inclusive está presente naquele cenário, existindo a hipótese de ser notado. A interatividade com personagens e objetos é o grande desafio, de forma a sincronizar ações diversas e até mesmo ver seu próprio corpo – coisa que, ainda, possui limitações técnicas.
O primeiro cinema de realidade virtual no mundo
A empresa “samhoud Media” fundou o “The Virtual Reality Cinema”: o primeiro espaço permanente do planeta na qual, em vez de uma tela enorme de cinema, os visitantes são convidados a trajar um conjunto de realidade virtual – com direito a óculos e headphones.
Encontrado em Amsterdã, nos Países Baixos, o local conta com cinquenta Samsung Gear VR aliados com os smartphones Samsung Galaxy S6 – escolhidos por não contarem com cabos excessivos e permitirem uma locomoção mais amplo – além de assentos que giram 360º para assegurar a mais adequada experiência possível. Para a parte do som, são mais cinquenta headphones Sennheiser.
Cada sessão tem meia hora e é composta por conteúdos estritamente criados para a tecnologia de realidade virtual, como botar você no meio do palco ao longo de uma apresentação do U2 ou voar por cima de uma cidade de helicóptero.
Películas em Realidade Virtual chegam ao Brasil
Nos festivais
O Festival Varilux de Cinema Francês 2017 vai oferecer uma Mostra de filmes franceses com tecnologia de realidade virtual. É a primeira vez que um evento no Brasil dedica uma seleção própria a este gênero, que acaba de ingressar inclusive no Festival de Cannes no ano de 2017 com uma película de Alejandro Gonzalez Iñarritu, “Carne e Areia”.
A mostra vai contar com 8 obras em trezentos e sessenta graus os quais experimentam a potencialidade da realidade virtual em inúmeros gêneros como ação, ficção, animações e documentários, todas elas foram produzidas por líderes em inovação audiovisual na França. As obras serão apresentadas de graça ao público paulista e carioca. As apresentações, efetuadas em assentos giratórios e com óculos de realidade virtual, acontecem entre 6 e 18 de junho em São Paulo e de nove a dezoito do mês de Junho na cidade do Rio de Janeiro.
A escolha será acompanhada pelo Michel Reilhac, curador de quatro obras “Best-of da criação independente de realidade virtual da França” o qual participa de palestras em São Paulo e na cidade do Rio de Janeiro. Profissional consagrado no território europeu, sendo o recente diretor do Submarine Channel na cidade de Amsterdã. Reilhac se define como “arquiteto de histórias interativas”.
Reilhac acredita que paulatinamente a tecnologia da realidade virtual tornar-se-á um novo segmento. “O meu desejo é que aprendamos apressadamente como a realidade virtual pode ser uma maneira fantástica de compartilhar experiências as quais não seriam realizáveis na realidade, porém não como uma substituição de todas as coisas que não somos capazes de fazer fisicamente”, diz Reilhac.
Em cinemas
Os principais shoppings da cidade de Belo Horizonte vão abrigar o Cine Virtual, um programa ainda inédito em território brasileiro de cinemas em realidade virtual. Diferente de uma sala de cinema tradicional, a ideia é que os clientes se sentem em uma cadeira giratória, com um óculos especial e headphones conectados a um aparelho celular.
Ao invés de ficarem parados vendo a uma projeção em tela, as pessoas podem girar em seus assentos para seguir as filmagens em 360 graus. Segundo Guto Aeraphe, criador do projeto, o Cine Virtual é similar ao primeiro cinema com realidade virtual do mundo, inaugurado em março na cidade de Amsterdã, nos Países Baixos. Lá fora as entradas custam, mais ou menos, € 12, 50. No Brasil, a exibição irá sair por R$ 10, com duração média de 10 minutos.
No último final de semana, a cidade de Divinópolis obteve uma apresentação desta experiência. A iniciativa é fruto de uma parceria do Canal Webseriados.tv e da produtora Cinemarketing Filmes. Também há expectativas de que outras salas de realidade virtual sejam abertas em território brasileiro. Os conteúdos dessas novas salas serão produzidos especificamente para essa tecnologia.
Entrevista com o diretor de cinema e webséries Guto Aeraphe
Guto Aeraphe, central responsável pelo desenvolvimento do Cine Virtual, revela que a ideia é que este projeto seja em diversos lugares diferentes, inclusive com mostras de filmes a céu aberto. Especialista em narrativa transmídia e branded content, ele trabalha com audiovisual desde 1997 e estabelece que a iniciativa não irá concorrer com a programação das salas de apresentação dos cinemas convencionais. No bate-papo abaixo, Aeraphe fala mais detalhes sobre esse projeto precursor e do primeiro filme interativo que está sendo produzido pelo canal Webseriados. televisão e a Cinemarketing Filmes:
1)Como surgiu a ideia Cine Virtual e quais são os desafios de criação de um cinema de realidade virtual no país?
Venho acompanhando essa nova tecnologia de captação de imagens há certo tempo e por isso comecei a sondar as diferenças entre a narrativa audiovisual convencional e a da criação em 360º e fiquei fascinado com as alternativas. O intrigante é que a questão da complicação de criação de uma cinematografia em realidade virtual não é tecnológica e sim conceitual. Anteriormente os espectadores deixavam o cinema falando “meu deus, eu amei aquela cena”. Nos dias de hoje, eles vão dizer “nossa, eu participei daquela cena”. Logo quem roteiriza e dirige películas tem que deixar para trás aquela antiga questão acerca de onde pôr a câmera no set, para tentar responder a esta nova que é onde colocar o espectador na cena. Esse é o ponto.
2) O Cine Virtual tem algum tipo de relação com o VR Cinema criado na Holanda?
Sem dúvida a decisão de criar um cinema de realidade virtual teve influência do VR Cinema, que como primeiro no planeta, se torna uma referência. Porém claro que a palavra final foi tomada logo após que realizamos uma pesquisa de mercado para analisar como o espectador do Brasil receberia. Foi averiguado que 87, 5% dos entrevistados não possuíam idéia da tecnologia e desses 90% receberam positivamente a experiência de assistir em 360 graus. Estamos chamando isto de fator “Uau! “, uma nomenclatura interna para se referir ao sentimento de quem tem contato inicial com o equipamento.
3) Qual é o tamanho da equipe envolvida com esse projeto?
Nosso grupo é reduzido, mas eficaz. Acreditamos que em poucos meses iremos ampliar ao passo que a demanda pelo serviço for aumentando, já que acreditamos bastante neste formato.
4) Você acredita que este será o futuro do entretenimento?
Talvez seja um pouco cedo dizer que esse tipo de entretenimento competirá com igualdade com as salas de cinema, porém, em se tratando de tecnologia colaborativa, que pessoa arriscaria uma previsão?
5) Quando exatamente conseguiremos ver esse projeto funcionando esse ano e por que Belo Horizonte foi a cidade eleita para seu lançamento?
Estamos na etapa introdutória da montagem do empreendimento e supomos que iremos colocar tudo em movimento em julho, para usufruir a programação de férias dos shoppings. Como bom mineiro, não poderia deixar de prestigiar a nossa capital e realizar a estreia em Belo Horizonte.
6) Vamos ter mostras itinerantes pelo restante do país?
A estrutura foi pensada para ser itinerante, sendo tranquilamente mudada de um local para outro, possibilitando que possamos levá-la para eventos abertos como os eventos de cinema que acontecem em todo o Brasil.
7) Quais são os shoppings da capital mineira que vão abrigar esta iniciativa e de que forma o Cine Virtual concorre com a programação dos cinemas convencionais?
Ainda estamos fechando os prováveis lugares das primeiras exibições, porém sou capaz de afirmar que o Cine Virtual não disputa com as exibições tradicionais. Particularmente por causa de suas características é uma outra forma de divertimento. Os filmes são reduzidos, com praticamente 10 minutos e a experiência é mais acentuada e interativa.
8) Ele terá um lugar com capacidade para quantas pessoas ao mesmo tempo?
Irão ser montados de 6 a 10 aparelhos que irão funcionar ao longo de todo o horário normal de trabalho dos shoppings.
9) Hoje temos diversas tecnologias diferenciadas envolvidas com simuladores de realidade. O Cine Virtual utilizará um óculos especial para imersão dos espectadores, este dispositivo vai ser um Oculus Rift, Samsung Gear VR ou Cardboard?
Ainda estamos negociando contratos de parceria com relação às tecnologias empregadas e devido a isso não somos capazes de falar quais os aparelhos serão utilizados, contudo, sem dúvida, serão de qualidade.
10) Fale mais com relação ao processo de criação do primeiro filme interativo que está sendo desenvolvido pelo canal Webseriados. tv e a Cinemarketing Filmes.
Estamos já em fase de pré-produção do filme que será exibido no lançamento. É um thriller, recheado de suspense com boas pontas de terror. Na nossa pesquisa, mais de sessenta por cento do público solicitou esse padrão de filme. Trata-se da perseguição a um serial killer que está atacando nas redes sociais. E o grande diferencial é que o filme será interativo e haverá a chance de três finais diferentes. Sem dúvida cada pessoa que tiver a chance de assistir ao filme terá uma experiência única.
Liga da Justiça e Aquaman em Realidade Virtual
A Imax mantém seu movimento para a realidade virtual, mencionando um acordo de co-financiamento e produção com a “Warner Bros. Home Entertainment”, através do qual desenvolverão e lançarão três experiências VR baseadas nos filmes da Liga da Justiça, Aquaman e outro título até agora não divulgado.
As companhias visam lançar uma experiência todo ano – iniciando com Liga da Justiça VR no final de 2017 – com uma janela exclusiva em sites de VR baseados em posicionamento da Imax antes de tornar o filme disponível para outras plataformas de VR.
Imax está iniciando a lançar VR baseado em posicionamento através de “pods” os quais seriam postos em salas de cinema e outros espaços públicos. O primeiro site de testes é o Centro de Experiência VR, perto de The Grove, em Los Angeles, com cinco novos conjuntos abertos em Nova York, Califórnia, Reino Unido e Xangai nos próximos meses. Se for bem sucedido, a intenção é lançar o conceito globalmente a fim de selecionar multiplexes, bem como lugares comerciais, como centros comerciais e destinos turísticos.
“Acreditamos que capitalizar os personagens da Liga da Justiça e Aquaman de nossas bem famosas propriedades da DC vai expandir o apelo dessa tecnologia de acelerado engrandecimento”, acrescentou Ron Sanders, presidente da “Warner Bros Worldwide Entertainment Distribution”.
A Imax já assinou contratos de conteúdo VR com o Skydance de David Ellison e a desenvolvedora de games Ubisoft. Parte deste conteúdo pode cobrir o uso de controladores de movimento, coletes hápticos ou poltronas equilibrados por deslocamento de D-Box nos locais da Imax.